Cruvianas

A exposição Cruvianas, da fotógrafa Gal Meirelles, é composta por 20 imagens que também integram o livro Cruvianas: prosa d’encantar carneiros, publicado pela Editora Quarteto, contemplada pelo Edital de Apoio a Editoras baianas, da SECULT. As imagens dialogam com o universo poético do escritor Igor Rossoni, autor do livro, que tematiza uma ideia de sertão distanciada dos sentidos midiatizados e historicamente explorados de sertão como espaço infértil. As fotografias de Gal Meirelles são construtos que representam um sertão vívido, resplandecente e pulsante que se solidifica em encantos vegetais; em acenos animais de cores, líquidos, luzes e sons. Por meio das fotografias do ensaio Cruvianas, é possível perceber um sertão que se reparte por toda parte, e explode em fotogramas multicores. A sugestão é que o observador se permita reinventar o que pensa saber sobre sertão, despertando o olhar para as infinitas conformações do tempo da natureza tão atropelado e confundido como o tempo e o espaço de cada um. A proposta conceitual das imagens se consolida com o formato expográfico: cada fotografia, impressa em formato 30 x 30, vem sobreposta em bolachas de madeira retiradas de troncos de árvores que serviriam para carvão. A ideia de utilizar bolachas de madeira maciça termina por subordinar a exposição e, consequentemente, o trabalho artístico às possibilidades advindas da natureza. Daí, o limite do tamanho das imagens depende sempre de encontrar troncos que possam ser reaproveitados para servirem de moldura. Em cada bolacha, o tempo da natureza se impõe. Por tal recurso, pretende a fotógrafa que o público não apenas se detenha na visualização da fotografia, mas que se espelhe nas ranhuras da madeira, buscando, na fração de segundo do olhar que dispensa a contemplação imagética, a percepção de como o tempo age sobre o próprio observador. Nesse sentido, este novo trabalho de Gal Meirelles dialoga com as demandas da desaceleração e do restauro dos signos que interligam homem e natureza.

Após apresentar os ensaios O peixe nosso de cada dia (2008); Balé das gaivotas (2009); Caboclos de Itaparica (2011,13 e 14), Gal Meirelles retoma o trabalho expográfico em Salvador com a exposição Cruvianas que tem abertura marcada para 21 de janeiro, na Tropos, localizada à R. Ilheus, 214, Parque Cruz Aguiar, Rio Vermelho, a partir das 19:30. A abertura da exposição será acompanhada do lançamento do livro Cruvianas: prosa d’encantar carneiros, de Igor Rossoni e contará com leitura poética de textos e participação musical de Rafael Galeffi.

Abertura da Exposição fotográfica Cruvianas, de Gal Meirelles 21 de janeiro de 2016
Período da exposição de 22 de janeiro à 27 de fevereiro de 2016 - 9 às 22h

Tropos – tropos.co
Rua Ilhéus, 214 – Parque Cruz Aguiar – Rio Vermelho
ENTRADA FRANCA

 

CRUVIANAS

craquelês de um muito profundo sertão

Por volta das quatro, em lúgubre madrugada, sonoros acordes driblam as ranhuras da manhã: eis-me na Casa dos Carneiros e desperto ouvindo Elomar Figueira Mello. Tal privilégio legado a uma urbanoide periférica revolucionou poros, derme, retinas. Fez com que os sertões – no mais profundo dos meus ermos – resultassem em diagramas de luz, sombras e silêncios despertados em mínimas temporalidades: imagens.

As fotografias que ora chegam a público celebram as cinzas dos cafés, os acordes dos bandolins de Sadi, o sorriso fraterno de Lene, os sabores de picadinhos e bodes e javalis, as tecelagens que adornam telhados, o coito infinito de pássaros que − nos confins da caverna dos Patos − fertilizaram transcendências.

Reeducar o olhar sobre o que se diz SERTÃO é – antes do nada – perceber o insurgente sob o esturricado, ocre, poeirento que se craquela deixando entrever estalos de aquarelas vivificadas em oceanos. A vida parte de toda parte e espreita-nos no imprevisível: o sertão tencionado se distende em diafragmas gelatinosos de luz.

Convoca-nos, assim, à explosão para, em atitude: pulsar, arder, vibrar, viver.

Gal Meirelles